domingo, 19 de setembro de 2010

Amor no Mundo Real

Era quarta-feira, e mais um dia Jorge passa a beira da loucura. Ele foi demitido há três meses por nenhum motivo aparente, provavelmente por corte de custos da empresa. Ele trabalhava há alguns anos lá carregando caixas e buscando as coisas para os empresários do prédio, nunca teve carteira assinada, mas mesmo assim recebeu 1000 reais ao ser demitido.

Hoje, três meses depois. Ele gasta os últimos 15 reais indo ao centro do Rio de Janeiro para uma entrevista de emprego. Porém ele é rejeitado, ele sente um ar de racismo, pois ele é negro. Jorge possui uma filha de três anos e uma esposa. Não existem outras pessoas na família para que ele possa pedir ajuda. Ele veio a oito anos, junto com a esposa de Espírito Santo para tentar uma vida no Rio de Janeiro. Tudo deu certo, porém agora toda a ilusão da cidade grande parece sumir.

São 4 da tarde e ele ainda tem 10 reais e 30 centavos, e está no centro do Rio de Janeiro. Ele já escutou histórias de pessoas que transformaram essas mixarias em pequenas fortunas. Ele sonha, porém sabe que não é o seu caso.

Ele pensa no que dar de comer para a sua filha amanhã. Não tem dinheiro para comprar nada mais do que um pão. Ele pensa em pedir emprestado a um banco, mas nunca haverá possibilidade para um desempregado. Ele decide voltar para casa. Agora lhe restam 5 reais e 60 centavos.

Sua casa é na favela, ele simplesmente comprou um barraco de madeira perto de um valão. Chegando lá encontra sua filha sozinha em casa dormindo. Não há sinais de sua esposa, só um bilhete. Ela lhe dá adeus, fala que não quer viver com um desempregado e passar fome, foi para a casa de uma amiga e é para não procurá-la. O ódio lhe domina, mas ele decide dormi.

Na manhã seguinte ele decide levar sua filha para a praia, não é uma boa opção para alguém que na volta passará fome. Na praia sua filha brinca com a areia como se brincasse com a terra e o barro da favela.

Logo aparece um menininho, talvez da idade de sua filha. Ele começa a brincar com a areia juntamente com ela. Jorge apenas vê, o garoto é loiro de olhos azuis, um dos reflexos da riqueza. Logo ele observa os pais, brancos como se nunca houvessem encontrado o sol na vida. Eles vêm em sua direção, começam a conversar. Eles falam uma mistura de português com italiano, incompreensivo em certas partes.

Jorge pede para os gringos olharem rapidamente sua filha enquanto ele vai a quiosque para comprar um salgado. Ele passa pela a filha e lhe beija a testa. Ele vai até o quiosque, mas não tem dinheiro para comprar, nem dinheiro para a passagem de volta para casa ele tem. Lá longe ele vê sua filha brincando com o menino, ela nem parece saber ou compreender o que passa com sua família. Jovem demais para sofrer.

Jorge olha do quiosque para a sua filha durante alguns minutos, até que decide atravessar a avenida em frente à praia, ele continua andando. Atravessa algumas ruas, porém para. Começa a pensar no que está fazendo, deixando sua filha com completos desconhecidos para que ela não passe necessidade? Ele volta correndo. Quando chega ao quiosque, consegue observar sua filha ainda brincando de areia com o menininho. Nada para as pessoas na areia aconteceu.

Ele agora olha em volta e observa que as pessoas estão felizes ou parece não se preocuparem com a possibilidade de terem de passar fome. E que ele acaba de entregar sua filha para este mundo feliz, ele pode deixá-la lá ou levá-la para o mundo cruel. Ele ama sua filha, quer vê-la crescer, se tornar moça, se casar, ter filhos. Mas ele não vai conseguir dar essa vida a ela. Ele não vai, este é o mundo real, onde co-existe o mundo cruel e o mundo feliz, ambos no mesmo quadrado, porém separados por muros de cifrões.

Ele atravessa novamente a avenida e segue cruzando outras ruas, seguindo sempre em linha reta. Torna o mundo cruel só para si mesmo.

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Nada que ninguém não conheça, mas as pessoas teimam ainda em não acreditar nessas histórias. Provavelmente baseado sem querer em fatos reais.
Bjs ;*
@RenanSparrow

4 comentários:

Jéssica Martins disse...

uaaau (:
que linda historia, amei super rs

Anônimo disse...

emocionante... adorei :]

Anônimo disse...

emocionante... adorei :]

Thiago Fernandes disse...

muito boa (: